Cada encontro está carregado de perda. Ou de perdas...às vezes duas pessoas que se amam (amigos, casados, solteiros, amantes, namorados) encontram-se e são felizes. Ao fim da felicidade, um deles chora... ou fica
triste...ou baixa os olhos...ou é invadido por uma inexplicável
melancolia...
É a perda que está escondida no deslumbramento de cada
encontro. O encontro humano é tão raro que mesmo quando ocorre, vem
carregado de todas as experiências de desencontros anteriores. Quando estás perto de alguém e não consegues expressar tudo o que está claro
e simples na tua cabeça, tu estás tendo um desencontro...
Aquela pessoa
que te dá um extremo cansaço de explicar as coisas, é alguém com quem
te desencontras...
A pessoa que só pensa
naquilo em que vai falar e não naquilo que estás a dizer para ela, é
alguém com quem te desencontras...
Alguém que te ama ou te detesta, sem
nunca ter sofrido a teu lado, é alguém desencontrado de ti...cada
desencontro é perda, porque é a irrealização do que teria sido uma
possibilidade de afecto. É a experiência de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite...
A partir daí,
uma tristeza muito particular se instala. A tristeza feliz...A tristeza
feliz é a que só surge depois dos encontros verdadeiros, tão raros.
Encontros verdadeiros são os que se realizam de ser para ser e não de inteligência para inteligência ou de interesse para interesse...Os
encontros verdadeiros prescindem de palavras, eles realizam em cada
pessoa a parte delas que se sublimou, ficou pura, melhor, louca, mas a
parte que responde a carências e às certezas anteriores aos factos...
É
mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar triste pela
certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria
da felicidade vivida ou trocada. Quem se alegra demais, distancia-se da
felicidade...
A felicidade está mais próxima da paz que da alegria, do
silêncio do que da festa. A felicidade está perto da tristeza, porque a
certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes. É esta
certeza - a da perda - que provoca aquela lágrima ou aquela angústia
que se instala após os verdadeiros encontros...Há sempre uma despedida em
cada alegria.... Há sempre um "E depois? após cada felicidade... Há sempre
uma saudade na hora de cada encontro...antecipada....
Disso só se salva quem
se cura, ou seja, quem deixa de estar feliz para ser feliz, quem passa do estar para o ser....
- Arthur da Távola -
Quem é que já não teve desencontros ? Com alguém , com a vida, com a sorte e com o azar ? Quem é que já não sofreu por um amor desencontrado, por um compasso perdido entre dois batimentos de coração ? Por um olhar que não olha e por um sorriso que não sorri ? Quantas vezes ficámos a observar à espera que o nosso amor se virasse para nós e nos dissesse : aqui estou eu...quantas vezes tivémos que ser forçados a esquecer alguém pela qual o nosso coração não se poderia apaixonar ? E quantas vezes o conseguimos ? Quantas vezes sofremos em silêncio ? Que ficámos imóveis à espera que as coisas mudassem , que por magia, esse amor simplesmente desaparecesse do peito ? Sentir ou pensar, avançar ou recuar...saber interpretar os silêncios da felicidade e as frases da tristeza que nos invade...Deixar de estar feliz para o exterior e simplesmente ser feliz para connosco...sorrir porque queremos e não para disfarçar a tristeza de um desencontro...